O Exército israelense bombardeou Khan Yunis, o novo epicentro da guerra em Gaza, nesta segunda-feira (22), enquanto familiares dos reféns detidos pelo Hamas instaram o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, a chegar a um acordo para libertá-los.
Testemunhas relataram ataques mortais durante a noite em Khan Yunis, a maior cidade do sul de Gaza, e fortes confrontos entre soldados israelenses e combatentes do Hamas.
Netanyahu prometeu uma “vitória completa” contra o Hamas após os ataques do movimento islamista em 7 de outubro contra Israel, que deixaram 1.140 mortos, a maioria civis, de acordo com um cálculo da AFP baseado em dados israelenses.
Os combatentes do Hamas também fizeram cerca de 250 reféns, e Israel afirma que pelo menos 132 permanecem em Gaza.
A guerra despertou temores de uma escalada regional. À noite, sirenes foram ouvidas no norte de Israel, perto da fronteira com o Líbano, segundo o Exército israelense.
Há confrontos quase diários entre as forças israelenses e o movimento libanês Hezbollah, apoiado pelo Irã, e várias áreas do sul do Líbano foram atacadas à noite.
Também houve surtos violentos na Cisjordânia ocupada.
Da mesma forma, os rebeldes huthis do Iêmen atacaram o que consideram navios vinculados a Israel no Mar Vermelho, gerando ataques retaliatórios por parte dos Estados Unidos e do Reino Unido. Já os ataques na Síria e no Iraque foram reivindicados por grupos ligados ao Irã em rejeição ao apoio americano a Israel.
“Etapa necessária”
No seu primeiro relatório público, o Hamas admitiu que houve “alguns erros” de sua parte nos eventos que desencadearam a guerra, mas também fez um apelo pelo fim da “agressão israelense” em Gaza.
Em um documento de 16 páginas, o grupo islamista palestino indicou que a operação de 7 de outubro foi uma “etapa necessária” e uma forma de garantir a libertação dos prisioneiros palestinos.
Israel prometeu “aniquilar” o Hamas após os ataques e lançou uma ofensiva implacável que matou pelo menos 25.295 pessoas em Gaza, a maioria mulheres e crianças, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas.
A campanha israelense matou “cerca de 20% a 30%” dos combatentes do Hamas e está longe de seu objetivo de destruir o movimento palestino, segundo cálculos da Inteligência dos Estados Unidos, divulgados por The Wall Street Journal.
Estados Unidos, Catar e Egito, que negociaram uma trégua em novembro, tentaram convencer Israel e o Hamas a adotarem um plano para libertar os reféns em troca da retirada de Israel de Gaza.
Mas Netanyahu insiste em que Israel deve manter o controle da segurança após a guerra e rejeitou a possibilidade de uma “soberania palestina”.
Trazer os reféns
Netanyahu também enfrenta intensa pressão para garantir o retorno dos reféns e responder pelas falhas de segurança que permitiram o ataque de 7 de outubro.
Parentes e apoiadores dos reféns protestaram novamente no domingo (21) perto da residência de Netanyahu, em Jerusalém.
“Pedimos ao nosso governo que ouça, que se sente para negociar e decida se aceita este ou outro acordo que convenha a Israel”, disse Gilad Korenbloom, cujo filho é refém em Gaza.
“Pedimos ao governo que faça a sua parte, que chegue a um acordo, conclua-o com sucesso e traga vivos os reféns restantes”, pediu John Polin, também pai de um refém.
Em um vídeo divulgado após o relatório do Hamas, Netanyahu afirmou que, em troca da libertação dos reféns israelenses, o Hamas exige o fim da guerra, a retirada das tropas israelenses de Gaza, a libertação dos prisioneiros palestinos e garantias de que o movimento islamista continue no poder.
“Se aceitarmos isso, nossos soldados terão caído em vão” e não haveria garantias de segurança, disse Netanyahu.
Crise humanitária
As agências da ONU alertaram para a fome e doenças entre os habitantes de Gaza – dos quais 1,7 milhão foram deslocados -, que enfrentam a escassez de água, de cuidados médicos e de outros bens essenciais sob bombardeios diários.
No domingo, 260 caminhões de ajuda humanitária entraram em Gaza, segundo a COGAT, a agência do Ministério da Defesa israelense responsável pelos assuntos civis palestinos.
Abdelrahmane Iyad, que foi ferido em Gaza e recebe cuidados no navio militar francês Dixmude, atracado no Egito, contou que toda a sua família morreu quando sua casa foi bombardeada.
“Voei pelo ar e bati na parede da casa do nosso vizinho, minha perna ficou presa sob um telhado que desabou”, disse Iyad à AFP no porta-helicópteros francês “Dixmude”, convertido em hospital para atender os civis palestinos feridos.
Fonte: AFP
Foto: Reprodução/AFP
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