Celebrado anualmente em 4 de fevereiro, o Dia Mundial do Câncer traz consigo a conscientização sobre prevenção, detecção precoce e tratamento de neoplasias malignas. Campanhas apoiadas pelo Hospital Ophir Loyola (HOL), em Belém, inspiram a adoção de hábitos saudáveis, como a manutenção de alimentação balanceada, a prática de exercícios físicos, o estabelecimento de rotinas que contemplem um sono de qualidade e a visita periódica ao médico e ao dentista para a realização de avaliações e exames, quando necessários.

Em dezembro de 2021, a marabaense Denise Batista, 27 anos, notou algumas mudanças no próprio corpo. Apresentava febre intermitente e um nódulo no pescoço. Por estar na fase final do curso de nutrição, adiou a visita ao médico e dedicou-se ao trabalho de conclusão de curso, o TCC. Os sintomas se intensificaram e ela decidiu procurar ajuda médica. Faltavam dez dias para a apresentação final quando foi diagnosticada com linfoma não Hodgkin (LNH), câncer que tem origem nas células do sistema linfático.

“Sentia muita febre todos os dias e sempre no mesmo horário. Lembro que apresentei meu TCC com muita febre e com uma íngua imensa, que deixou meu pescoço deformado. O dia da minha formatura foi marcado pela minha primeira sessão de quimioterapia. Passei mal em todas as 12 sessões. De início, o câncer ficou controlado por seis meses, mas a doença voltou”, recordou Denise, que se mudou para Belém há cinco anos.

Foi na capital paraense que a jovem conheceu Mikael Miranda, 25 anos, o noivo que a acompanha desde o início do tratamento. “Acompanhar uma pessoa que luta contra um câncer é muito difícil, a gente sofre junto. Eu vivi por ela, mudei minha faculdade para a modalidade semipresencial e pedi demissão do emprego”, afirmou Mikael.

Mesmo com o comportamento agressivo da doença, Denise seguiu com o tratamento proposto pelo especialista e se surpreendeu quando soube que seria a próxima paciente a ser submetida ao Transplante de Medula Óssea (TMO). O Hospital Ophir Loyola é a única instituição pública da região Norte a oferecer o procedimento gratuitamente aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS).

“Aqui no Ophir eu recebi um atendimento tão humano, que me emociono com tanto carinho. Fiz o transplante e, em alguns momentos, achei que não fosse dar conta. Com a quimioterapia, eu me sentia frágil, igual a um bebe recém-nascido, mas a equipe me acolheu muito bem e estou feliz com a oportunidade de estar viva. Viva o SUS! Sou uma transplantada muito grata ao Hospital Ophir Loyola, ao doutor Thiago (Thiago Xavier, oncohematologista e responsável técnico pelo serviço de TMO do HOL) e a toda equipe pela humanidade. Quero viver tanta coisa e agora eu sei que Deus me deu outra chance por meio desse transplante”, disse a nutricionista bastante emocionada.

“O TMO é uma alternativa importante quando outros tratamentos para doenças que afetam o sangue não respondem como o esperado. Este foi o primeiro TMO do hospital realizado em paciente com linfoma não-Hodgkin, doença que atinge mais pessoas jovens, de 20 a 25 anos. O procedimento foi um sucesso e é uma felicidade muito grande para todos. Nós nos apegamos bastante aos pacientes e estamos lutando com eles lado a lado, então, celebramos essa vitória juntos também”, disse Xavier.

Denise recebeu alta hospitalar no dia em que celebrou seu aniversário de 27 anos, no último dia 29 de janeiro. Agora, ela pretende seguir com todas as recomendações médicas enquanto comemora a “pega da medula” – a constatação de que a medula óssea está funcionando e o transplante obteve êxito.

“A sensação de receber a notícia de que o transplante funcionou foi melhor do que passar no vestibular. É algo que não tem explicação. Conheci o Mikael na igreja e com um mês de namoro fui diagnosticada com câncer. Temos tantos planos, tantos sonhos, e agora, com o transplante, poderei realizá-los. O câncer me ensinou que viver é muito bom e que vale muito a pena. Eu ainda quero tanta coisa. Quero casar, ser mãe e hoje o transplante me permite sonhar de novo”, disse Denise.

Durante as comemorações na enfermaria onde o transplante foi realizado, Mikael comunicou, diante da equipe, o seu desejo de avançar no relacionamento. “Ela brinca comigo que eu sou frio e sem sentimento, mas no dia que a medula pegou, eu chorei de felicidade. Sei que vamos casar um dia e toda a equipe já está convidada”, disse o rapaz, sob os aplausos da equipe do setor de hematologia.

 Proposto pela União Internacional para o Controle do Câncer (UICC), o Dia Mundial do Câncer inspira mudanças. De acordo com a entidade, cerca de 6 milhões de mortes por câncer ocorrem anualmente. Desse total, 1,5 milhão de óbitos poderiam ser evitados com a mudança de comportamento da população. Por isso, recomenda-se, por exemplo, evitar: tabagismo,  consumo de álcool, sedentarismo, obesidade, relações sexuais desprotegidas, dentre outros fatores de risco.

A superintendente do Instituto de Oncologia do HOL, Ana Paula Borges, ressalta a relevância da detecção precoce para o combate à doença em tempo oportuno. “A vacinação contra o papilomavírus humano (HPV) e a hepatite B são medidas essenciais na prevenção de alguns tipos de câncer. Consultas médicas regulares e a realização de exames preventivos, a exemplo do teste de Papanicolau e da mamografia, também ajudam no rastreamento de anormalidades sugestivas de neoplasia. A conduta terapêutica determinada pelo especialista considera, dentre vários fatores, o tipo e o estadiamento da doença, e o tratamento pode abranger algumas modalidades, tais como cirurgia, radioterapia e quimioterapia”, concluiu a cirurgiã oncológica.

Fonte: Agência Pará
Foto: Rafael Diniz