A partir da metade do século XIX até o início do século XX, quando Icoaraci ainda atendia pelo nome de Vila de São João de Pinheiro, as famílias mais abastadas que viviam em Belém encontravam fartura de alimentos, beleza natural e ventilação constante para construir suas casas de lazer e veraneio, como é o caso da família Porfírio da Costa, cujo chalé erguido na vila distante 25 km ao norte da capital paraense ainda se faz presente na rua Padre Júlio Maria, ou Terceira Rua.
Mantendo essa referência justamente por ter sido a terceira rua aberta paralelamente à Baía do Guajará, a rua Padre Júlio Maria mantém parte das construções históricas que contam muito da história do desenvolvimento do distrito de Icoaraci. “A rua Padre Júlio Maria é uma das principais ruas de Icoaraci por haver, ao longo do seu percurso, importantes instituições que marcaram a história do distrito, além, claro, de grandes chalés e casarões construídos por famílias endinheiradas de Belém que vieram para cá na virada do século XIX para o XX”, explica o historiador Vitor Nazareno da Mata Martins.
“É na Terceira Rua (ou Rua Padre Júlio Maria) que está, por exemplo, a Matriz Paroquial de São João Batista e Nossa Senhora das Graças, a Loja Maçônica, a antiga Estação Ferroviária da Estrada de Ferro Belém-Bragança e o Colégio Nossa Senhora de Lourdes”.
Marco do processo de ocupação da então vila, a antiga Estação Pinheiro foi inaugurada em 1906, já no século XX. Na época, o ramal da Estrada de Ferro de Bragança funcionava em via dupla, a partir de trilhos vindos da Europa, e permitia acesso facilitado à Vila do Pinheiro. Até a chegada da estrada de ferro, o contato era feito margeando a foz do rio Pará até chegar à fazenda Pinheiro, uma viagem relativamente demorada e pouco atrativa. Apesar da ferrovia ter sido desativada há anos, até hoje é possível ver a estação que está localizada na rua Padre Júlio Maria, ou Terceira Rua.
O historiador Vitor Martins explica que, na época da sua abertura, em 1869, a Terceira Rua chegou a se chamar Oito de Outubro, em alusão à Lei Provincial 598, que mudou o nome da Fazenda Pinheiro para Povoado de Santa Isabel. A homenagem ao padre veio no século seguinte. “Já no século XX, ela passou a se chamar Padre Júlio Maria em homenagem a um presbítero belga que veio para a Amazônia, chamado Padre Júlio Maria de Lombardi, nascido em 1878 e falecido em 1944, que foi o fundador da Congregação das Filhas do Imaculado Coração de Maria, também conhecidas como irmãs Cordimarianas, em 21 de novembro de 1916”, aponta.
“E que relação o Padre Júlio Maria Lombardi teve com Icoaraci? Em 1923, ele fundou o Colégio Nossa Senhora de Lourdes, um dos mais tradicionais colégios da Amazônia, que acabou de completar 100 anos, a partir da transferência da casa de governo das irmãs e do noviciado que ficava em Macapá para cá”.
Localizado na esquina da Rua Padre Júlio Maria com a Travessa São Roque, esse colégio ainda se mantém vivo no cenário de Icoaraci e, por anos, manteve convênio com o Governo do Estado do Pará para ofertar vagas a crianças de comunidades carentes. “Em 2015, foi aberto um pedido para a beatificação de Padre Júlio Maria Lombardi, pelas irmãs Cordimarianas e outros religiosos e religiosas de congregações abertas por ele no Brasil”.
Muitos dos aspectos preservados pela rua que detém um grande fluxo de veículos é lembrada pelo técnico de controle Francisco de Oliveira Dantas, 57 anos. Apesar de não ter conhecido o passado do distrito em que nasceu, ele conhece a história contada a partir dos casarões e chalés que ainda permanecem no cenário, sobretudo na rua Padre Júlio Maria. “Essa rua tem um fluxo muito grande e a gente ainda vê que tem alguns casarões nela, apesar de muitos não estarem mais tão preservados. Com certeza é uma rua muito importante pra história de Icoaraci”.
CONSTRUÇÕES HISTÓRICAS
l Situado na rua Padre Júlio Maria, o Chalé Senador José Porfírio apresenta gradis de ferro e linhas do estilo Art Nouveau, movimento nascido na Europa no final do século XIX e que influenciou também a arquitetura. Atualmente, encontra-se em ruínas, mas, ainda assim, sua estrutura não deixa esquecer a imponência da construção que continua sendo propriedade particular.
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