A Polícia Federal identificou a participação de um assessor da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) na disseminação de informações falsas sobre as urnas eletrônicas após a derrota de Jair Bolsonaro, com o objetivo de fomentar o ambiente para um golpe.

As informações fazem parte da Operação Tempus Veritatis, deflagrada no último dia 8 para apurar as articulações de um golpe de Estado por parte do ex-presidente e seus aliados.

Um dos eixos para criar condições para o golpe, segundo a PF, seria a disseminação de informações falsas para desacreditar as urnas eletrônicas e o processo eleitoral, criando o terreno para a contestação do resultado. Foi nesse campo que entrou a participação do assessor de Zambelli.

De acordo com os dados apurados, Jean Hernani Vilela foi o responsável por disponibilizar na internet um vídeo no qual um argentino que se apresenta como consultor político, Fernando Cerimedo, apresentava informações falsas sobre supostas vulnerabilidades dos modelos de urnas eletrônicas. Cerimedo também atuou, posteriormente, na campanha eleitoral do presidente argentino Javier Milei, também aliado de Bolsonaro.

O link do vídeo publicado na rede pelo assessor de Carla Zambelli foi disseminado entre bolsonaristas a partir do dia 4 de novembro, após a derrota de Bolsonaro, com o objetivo de desacreditar o resultado do pleito.

A investigação identificou que a gravação desse vídeo foi uma articulação dos bolsonaristas com o objetivo de desacreditar o resultado do pleito. De acordo com a PF, Hernani disponibilizou o vídeo em um sistema de compartilhamento de arquivos e o assessor do Palácio do Planalto Tércio Arnaud Tomaz, integrante do chamado “Gabinete do Ódio”, foi responsável por disseminar o endereço para acesso.

“A investigação obteve elementos de prova que demonstram a ação coordenada pelo grupo para utilizar influenciadores digitais, militares e o Partido Liberal para potencializar os ataques ao sistema eletrônico de votação, com o fim de criar o ambiente propício para a execução do Golpe de Estado.” (Relatório da Polícia Federal)

Hernani já havia aparecido em uma investigação anterior sobre ataques às instituições democráticas. A PF suspeita que ele foi o responsável por pagamentos ao hacker Walter Delgatti Neto para a confecção de um mandado falso de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes e para buscar fragilidades nos sistemas do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Ele foi alvo de busca e apreensão nesse caso, que ainda está sob apuração.

A defesa de Zambelli afirmou, em nota do seu advogado Daniel Bialski, que Hernani só foi nomeado para trabalhar em seu gabinete a partir de 2023 e que, por isso, desconhece fatos ocorridos em 2022.

No ano de 2022, entretanto, uma empresa ligada a Hernani já prestava serviços a Zambelli, conforme registros de pagamentos da Câmara dos Deputados, e a esposa dele também prestou serviços para a deputada. Antes de ser nomeado como pessoa física para o gabinete de Zambelli, Hernani trabalhou como assessor na liderança do governo Bolsonaro na Câmara dos Deputados.

Procurado, Hernani não retornou aos contatos.

 

Por Aguirre Talento/UOL 
Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados